terça-feira, 18 de outubro de 2016

História Arquivada - Julgamento: Urgot













Candidato: Urgot
Data: 24 de Agosto, 20 CLE

OBSERVAÇÃO

Urgot se arrasta pelo grande saguão do Instituto da Guerra, suas pernas como as de aranhas carregando seu corpo inchado e bulboso em direção a seu objetivo final. O raspar do metal no mármore e o estalar abafado de energia marcam sua passagem enquanto ele se move com agilidade enganosa. Seu semblante horrível e sem emoção contradiz a convicção em seu olhar.

De seu braço direito pende uma lâmina sinistra, começando onde a mão deveria estar. Seu braço esquerdo termina em um canhão, um substituto similarmente pobre para a extremidade. Ele range e para ante a um par de suntuosas portas de mármore. Ele ergue uma de suas pernas segmentadas metálicas, estendendo-a para lidar com o portal que o bloqueia, abrindo-o facilmente ao tocá-lo. Sua pele cheia de cicatrizes, remendada – empalidecida pelo brilho sinistro do motor tecmatúrgico que o sustenta – cintila com gotas de suor enquanto ele se desloca para dentro.

REFLEXÃO

A escuridão em volta dele se tornou pesada e familiar. Ele podia sentir o orvalho em seu couro cabeludo e uma brisa tensa passou por ele. Seu corpo inteiro tremia, mas não havia medo nele. Só a antecipação pelo que estava por vir. Urgot fechou os dedos em torno do punho de seu machado. Seus dedos! Ele ergueu uma mão em frente a seu rosto. Enquanto seus olhos se ajustavam à escuridão, ele olhava incrédulo para a visão de seus dedos, intocados. Logo atrás deles ele reconheceu o rosto austero de Sion, seu comandante, um apito preso entre seus lábios.

Um relâmpago arqueou e iluminou o céu, seu brilho revelando um vulto distante. Trovão se seguiu alguns segundos depois. Será? Ele estaria aqui, agora?

O chiado agudo do apito de seu comandante o arrancou de suas contemplações. Quase involuntariamente, ele saiu em disparada, correndo direto em direção a seu adversário distante.

“Penetras!” ele ouviu alguém gritar. “Homens, em formação!”

À frente, ele podia ver os soldados entrando em formação, uma muralha de escudos demacianos esperando o ataque. Algo estava errado. Haviam muitos deles.

Sem interromper o passo, ele trouxe seu machado à sua frente, rachando ao meio o escudo do primeiro inimigo e o jogando para trás. Urgot avançou – alheio ao perigo – balançando a arma em arcos amplos para alargar o buraco nas defesas inimigas. Os sons do combate encheram o ar e o caos explodiu em torno dele. Por um instante, os demacianos vacilaram, adiando o que estava por vir.

Uma ferida fresca fez com que sangue vazasse em seus olhos, e ele o borrou com a mão enquanto passava pelo caos. Outro raio revelou um vulto encouraçado, resoluto, na linha de fundo da vanguarda, que gritava ordens enquanto se firmava em um carvalho antigo. Urgot se moveu novamente, seu machado abrindo caminho.

Ele golpeou seu caminho até a linha de fundo das forças inimigas, os gritos de seus companheiros dando urgência a seu ataque. A moral dos demacianos estava aumentando. Seus companheiros estavam sendo dominados. Ele avançou para interceptar o comandante inimigo, machado segurado no alto, enquanto ele se movia para voltar ao combate.

Seu oponente correu para o lado e a lâmina do machado acertou firme o tronco da árvore. Urgot puxou desesperadamente, lutando para libertar a arma teimosa. Mas era tarde demais. Houve um clarão prateado, e tudo ficou silencioso. Sua visão se embaçou e ele tropeçou para trás, braços estendidos para a frente. As extremidades destruídas – acabando logo abaixo do pulso – queimavam em agonia quente e branca enquanto jorravam uma corrente sanguinolenta.

“Você se lembra, Urgot?” perguntou uma voz familiar. Urgot se virou para a voz que o abordava. A carnificina em torno dele havia sumido, e era dia agora. Ele estava em uma clareira no bosque. Ele podia ouvir os pássaros chiando na brisa matinal. Garen, o Poder de Demacia, estava a alguns passos de distância, limpando ociosamente o sangue de sua espada.

“Eu me lembro, demaciano,” coaxou o guerreiro mutilado, estoicamente, “eu me lembro do que você fez comigo.”

Um sorriso maléfico se formou nos cantos dos lábios de Garen. “Ainda não acabou,” ele zombou.

Num piscar de olhos ele se foi, substituído por uma multidão vibrante de guerreiros noxianos. O braço direito mutilado de Urgot agora acabava em uma lâmina de aparência selvagem, um presente de um cirurgião de campo. Ele olhou para baixo. A seus pés, amarrado e jogado na sujeira, estava um jovem belo, de cabelos escuros. Jarvan IV, príncipe de Demacia, o fitava, seus penetrantes olhos castanhos fixos no carrasco, sem medo. Apesar de derrotado, o ar de orgulho e dignidade nele não podia ser suavizado.

Urgot vestia um sorriso de satisfação enquanto levantava o braço para dar o golpe fatal. Uma flecha o atingiu no peito, parando seu ataque. Ele arquejou de dor, olhando para cima a tempo de ver brevemente aquele mesmo vulto se aproximando dele com velocidade incomum, arma erguida de forma ameaçadora.

Ele caiu à terra, uma poça tépida se espalhando rapidamente sob ele com cada batida lenta, ensurdecedora de seu coração. Ele quis gritar, mas não encontrou o fôlego. Não podia ser o fim! Não assim! Essa era a sua vez. Não assim! A escuridão se fechou em torno dele, deixando-o sozinho com seu assassino.

“Por que você quer entrar para a Liga, Urgot?” perguntou Garen, se apoiando em sua espada.

Os arquejos custosos de Urgot cessaram. Ele estava inteiro novamente, suas pernas metálicas rangendo enquanto ele estremecia de raiva. Energia necromântica corria por sua espinha metálica. “Vingança!” ele rugiu, olhos acesos de ódio.

Garen assentiu com a cabeça, dando um passo à frente. “Como se sente, expondo sua mente?”

Em resposta, Urgot ergueu sua poderosa lâmina sobre sua cabeça e a lançou furioso sobre a imagem de seu nêmesis. Ele encontrou apenas ar e o fantasma se dissolveu na escuridão. As grandes portas à frente dele se abriram. A Liga estava à espera.

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