História Arquivada - Julgamento: Irelia

Candidata: Irelia
Data: 12 de Novembro, 20 CLE

OBSERVAÇÃO

Uma enorme lâmina de quatro pontas abre o ar para Irelia enquanto ela adentra o Grande Saguão. A arma incomum, outrora empunhada por seu pai, paira sozinha dois metros acima do chão. Irelia a segue apaticamente, sua mente focada em sua tarefa. Além de sua armadura impecável, polida cuidadosamente para apresentação, Irelia não se esforça com sua aparência. Seu rosto é visto apenas em relances por trás de seu cabelo balançante. Ela é jovem, mas o brilho jovial de seus olhos foi corrompido pelo sangue do campo de batalha.

Ela mantém uma presença imponente, apropriada para a capitã da guarda ioniana. Apesar de carregar a responsabilidade pela segurança de Ionia, seus ombros são tão quadrados e resolutos quanto seu Manto do Decoro – a maior condecoração de Ionia. A espada voluntariosa corre na frente dela em direção às portas de mármore, parando sob a inscrição. Ali, ela treme imperceptivelmente, emitindo um lamento em tom alto. Se é por apreensão ou empolgação, não está claro. Irelia, sem expressão, passa por ela e anda em direção à escuridão.

REFLEXÃO

A escuridão deixou Irelia apreensiva; este era um modo inseguro para se conduzir uma entrevista. Ela sentiu a lâmina a rodeando, procurando ameaças que não podia ver. Ela esperava que os agentes da Liga teriam a sabedoria de se aproximar dela com cuidado, já que um ataque surpresa terminaria mal... para eles.

Irelia tinha jeito com o aço; ele falava com ela. Fechando os olhos, ela estendeu seus sentidos – um exercício meditativo que seu pai lhe ensinara para perceber ameaças invisíveis. O ar é como a água, você apenas deve prestar atenção nas ondas. As palavras dele ecoaram sem sua mente. O que era mesmo que ele sempre dizia depois–

Irelia se jogou em um salto para trás, a lâmina afiada de uma faca cortando o espaço que sua cabeça ocupava. Ela aterrissou agachada enquanto uma segunda faca corria pelo ar em direção a ela. Ela chamou a lâmina de seu pai, mas ela não estava em lugar nenhum. Sentindo o perigo, ela conseguiu abaixar a cabeça exatamente o suficiente para evitar a ponta do segundo projétil. Ela não vacilou quando a lâmina da faca deslizou por sua bochecha.

“...cada onda é mensageira de algo ainda por vir.” Mestre Lito apareceu da escuridão, sua expressão grave por trás de sua venda. Mais duas facas estavam agarradas entre os dedos de sua mão esquerda.

“Sinto o cheiro de sangue.”

Irelia ficou de boca aberta. “Pai?”

“Não tente esconder, eu posso ouvir seu sangue pingando nas telhas.”

Irelia olhou para baixo. As telhas de argila vermelha do telhado eram inconfundíveis; esta era sua casa. Mas ela a vira sucumbir às doentias chamas verdes das hextochas zaunitas anos atrás.

“Você sabe o que isso significa.” Lito colocou as lâminas nas dobras azuis de seu robe. Ele inalou fortemente, suas mãos se movendo em círculos na frente dele, canalizando energia. Irelia sabia o que isso significava: disciplina.

“Pai, espere–” ela começou a dizer. O protesto foi fútil. Um estampido alto anunciou seu ataque; Irelia foi lenta demais para se esquivar. Apesar de ele estar a vinte passos de distância, o longo pano da manga do robe de treino de seu pai se lançou para a frente, chicoteando-a bem no peito. Ela foi atirada para trás, deslizando telhas abaixo. Recobrando o equilíbrio, ela rolou de volta, telhado acima. As telhas se racharam quando os ataques implacáveis de Lito trovejavam atrás dela. Ele pausou por um momento.

“Desorganizado. Sua mente está nublada.” Lito moveu seu pulso, e pano agarrou o pescoço de Irelia vindo do outro lado do telhado. Com outro movimento, ele trouxe Irelia voando em direção a ele, arrancando-a de seus pés. Ela podia ver, vagamente, o chute circular de seu pai vindo para dar a lição final do dia, quando um vulto vermelho apareceu na frente dele.

“Achei que ouvi alguém sendo disciplinado. Está tendo dificuldades, Irie?” Uma voz se gabou.

“Zelos!” Irelia gaguejou. Zelos estava entre eles, seu braço direito bloqueando o chute circular, e sua mão esquerda segurando a manga de seu pai para que ela pudesse se desvencilhar. O tecido soltou seu pescoço.

“Eu trouxe uma coisa pra você.” Ele sorriu para o pai deles que, apesar de vendado, sorriu de volta. “Justo é justo.”

Zelos jogou um sabre para ela, mas antes que ela pudesse pegá-lo, a outra manga de Lito o puxou do céu. Ele saltou, girando horizontalmente no ar, trazendo a arma para junto dele. O movimento circular derrubou Zelos sobre as telhas.

“Certo, vamos lá!” Zelos brandiu uma espada própria de uma bainha presa a suas costas e atacou seu pai. O ataque pareceu passar através de Lito. Irelia pulou em pé, se virando para a frente num devastador chute descendente. Seu calcanhar colidiu com a parte achatada do sabre que Lito interceptara. Zelos direcionou sua energia em um chute circular reverso, e Lito foi obrigado a bloquear o golpe com seu braço. O sabre caiu de sua manga.

Irelia não perdeu tempo em mergulhar pela arma. A manga de Lito arqueou como ela esperava, mas desta vez ela estava pronta. Ela aterrissou em seu pano com sua mão direita, prendendo-o às telhas. Ela torceu seu corpo para que seu pé pudesse chutar o punho da espada, jogando-a ao ar. Seu outro pé balançou pelo ar para chutar a parte de trás da espada, lançando-a direto contra Lito.

Ele arrancou a venda de seu rosto quando a espada se enterrou em seu estômago. Seus olhos estavam arregalados.

“Irelia, o que você fez?!” Lito engasgou.

Irelia fitou-o, apática. “Já chega?”

“Irelia, papai está muito ferido!” Zelos estava incrédulo.

Ela assentiu com a cabeça. “Bom, ele tem uma espada cravada nele.”

A expressão de dor de Lito sumiu, substituída por um sorriso irônico. “Por que você quer entrar para a Liga, Irelia?”

“Meu lar foi destruído porque eu não tinha a força necessária para protegê-lo. Vou lutar até a morte antes de deixar algo assim acontecer novamente com Ionia.” Seu tom de voz era gélido.

“Como se sente, expondo sua mente?”

Irelia riu alto, um som do qual ela quase havia se esquecido. “Lhe agradeço por me permitir ver minha família novamente, mas meu pai nunca nos permitiria acertar um golpe. Ele entrou para os Anciãos ao ficar seco neste mesmo telhado durante uma tempestade. De acordo com os relatos, ele nem se moveu. Você pode visualizar as imagens em minha mente o quanto quiser, mas nunca irá apreciar sua verdadeira natureza.”

Irelia se viu na alcova de espera, portas fechadas na frente e atrás dela. A lâmina de seu pai quicava no ar, complacente, a seu lado. Com um clarão, a lâmina se dividiu em quatro, abrindo todas as portas ao redor de Irelia. Ela inalou profundamente, e andou em direção à Liga.