História Arquivada - Julgamento: Caitlyn

Candidata: Caitlyn
Data: 31 de Dezembro, 20 CLE

OBSERVAÇÃO

Caitlyn adentra o Grande Salão com uma série de zunidos e cliques, à medida que as lentes saídas de seu chapéu se ajustam para permitir que ela estude o espaço em detalhes meticulosos. Há um longo rifle pendurado sobre seu ombro, e ela suporta seu peso tão confortavelmente que pode-se duvidar de que em algum momento ela ande sem ele. Suas vestes são tão vivas com a atividade das engrenagens quanto reveladoras, ambas as facetas competindo por atenção.

Ela observa a sala com o olhar de um investigador, tomando nota da disposição de todos os objetos. Ela examina detalhadamente as portas de mármore que levam à Câmara das Reflexões com soturna determinação. Satisfeita com o fato de que poderia analisar uma cena de crime ali posteriormente se necessário, ela passa pelas portas.

REFLEXÃO

A escuridão tocou sua pele como o orvalho após uma longa vigília, fresco e sóbrio. Como se em resposta à ideia, ela ouviu o leve tamborilho da chuva caindo sobre a pavimentação atrás dela. Alarmada, ela se virou rápido demais, batendo seu cotovelo em algo sólido. O "algo" era uma parede de tijolos encardida, na qual uma criatura musculosa, remetendo ao Barão Nashor, estava pichada com detalhes impressionantes. Com ceticismo condicionado, seus olhos foram da parede em direção ao longo beco próximo a ela. Ela reprimiu um som de surpresa antes que deixasse sua garganta. Via da Resiliência. Não importa quantas horas ela passasse ali, o lugar sempre lhe dava calafrios. Ela direcionou seu olhar ao céu, onde podia ver o pináculo da Torre Constância refletindo sua luz familiar por sobre a cidade, lembrando aos demacianos que sempre se deve agarrar suas rédeas éticas com força. Tristemente irônico o fato de que a mesma torre permitiu que o fugitivo, o misterioso "C", escapasse quando estava tão próximo de seu alcance.

Ela lembrava de cada detalhe do dia. Eles se fixavam em sua memória como uma foto de um amante morto colada a um espelho, ali como lembrete do que poderia ter tido. A perseguição começou no saguão do Salão da Guilda dos Artífices na lotada Praça da Honra em Demacia. Uma aluna estudando Fabricação Avançada de Wafers Tecmatúrgicos tinha, ao acaso, passado por ali para falar com Moraj Wossit sobre seus pré-requisitos para inscrição na Guilda. Wossit era um burocrata qualquer que, sem o conhecimento dela ou de seus superiores, estava negligenciando seu trabalho às terças de manhã enquanto recebia, segundo ele mesmo, "terapia eletiva anti-estresse". Caitlyn tinha ouvido essa desculpa vezes suficientes para saber que o que ele realmente queria dizer era "algo de que minha esposa e filhos não devem saber". Belo exemplo do baluarte da moralidade demaciana... se bem que, em retrospecto, ele poderia estar simplesmente assistindo uma partida tardia da Liga com um caneco de cerveja, considerando a rédea curta em que Demacia mantinha seu povo. Seja como for, a aluna por acaso entrou em seu escritório e encontrou sua mesa desordenada e a janela aberta. Ela informou um supervisor que, preocupado, entrou em contato com as autoridades locais.

Caitlyn estava na cidade investigando a última carta enigmática deixada por "C". Era a quarta de uma série de cartas praticamente idênticas que ele havia deixado nas cenas de seus crimes. Todas continham apenas uma única letra: "C". Esta havia sido deixada no lugar do Cristal Celestial roubado do Salão Dervixe do Cristal, no Freljord. Ela havia determinado que ele escolhia tipos de papel de tons levemente diferentes para informá-la sobre qual área de Valoran pretendia atacar em seguida. Havia algum significado na tinta e fonte utilizadas, mas ela não tinha decifrado isso ainda na época. Graças a seu roubo anterior da Espada Longa de Milthorn do Palácio Real de Demacia, Caitlyn deduzira que ele apareceria ali novamente, e estava falando com o chefe de polícia quando a mensagem chegou do Salão da Guilda. Ela acompanhou o policial até lá por intuito, e quando chegaram, o saguão estava repleto de capangas da segurança.

O supervisor tivera cuidado o suficiente para checar o escritório do Artífice Sênior, a que Wossit tinha acesso especial. Quando chegou ali, o escritório estava caótico, bem como o outro. Mas mais importante que isso, o valioso Capacete do Protetor, levado a Demacia anos antes pela Campeã da Liga Poppy, havia sumido de um cofre aberto. O capacete fora entregue à Guilda dos Artífices para uma espécie de sintonização mágica, e os macacos da Guilda haviam assegurado a Caitlyn de que toda a operação era secreta. No cofre, outro cartão estava à espera, zombando de sua incapacidade de decifrar as pistas nele contidas.

A segurança trancou as portas do prédio imediatamente. Caitlyn estava ouvindo o relato do Chefe de Segurança quando percebeu um oficial de segurança que não lhe permitia dar uma boa olhada em seu rosto. Era incidental o suficiente para parecer desimportante, mas depois de cinco minutos de olhares desviados, ela decidiu iniciar uma conversa. Ela deu quatro passos firmes na direção dele antes de ele disparar em direção às escadas.

Ela o perseguiu por dez andares de escadaria, nunca desacelerando o passo. Ela chegou ao telhado a tempo de vê-lo balançar para longe em uma corda afixada ao topo da Torre Constância. Enquanto ele balançava, era nítido que ele calculara a fuga para alcançar o telhado do Salão de Treinamento de Gillson. Estava perto demais para simplesmente deixá-lo escapar, então ela ergueu seu rifle e mirou em uma perna. Seu alvo havia cometido um erro, já que não podia desviar, e acertar o momento de seus tiros era o que Caitlyn fazia de melhor.

Ela puxou o gatilho.

Em um instante, o criminoso caiu da corda. Caitlyn não entendeu; a bala não deveria ter acertado tão cedo. O tempo desacelerava enquanto ela o assistia descer pelo ar. Ela observou até ele desaparecer por entre os prédios e correu escada abaixo.

E aqui estava ela novamente. Parada na Via da Resiliência, onde ele caíra. Havia testemunhas em todo lugar que o viram cair no beco, e mesmo assim estava vazio. Sem corpo, sem sangue, sem explicação de como ele poderia ter sobrevivido, e ninguém o viu sair. Aquela noite, ela sentara-se ali, naquele lugar imundo e chuvoso por horas, buscando uma resposta.

Como se respondendo à lembrança, uma das pedras se moveu, abrindo uma fenda no chão ensopado.

Caitlyn pulou para trás, puxando seu rifle de seu ombro em um movimento praticado, mirando-o no buraco. Uma risada baixa ecoou da escuridão.

"Sou esperto, não acha?" Disse uma voz.

Caitlyn não pôde compreender a situação rápido o suficiente. "Saia lentamente!"

"Não, não vou fazer isso." A voz estava nitidamente se divertindo.

"Vou contar até três. Se você não estiver à vista com as mãos ao alto, vai ser a faísca da boca do meu rifle que vai iluminar o caminho." Caitlyn estava acostumada a superar obstáculos."Um..."

"Você não vai conseguir, não tem–"

"Dois..."

"Você sabe que se atirar em mim, nunca vai descobrir como eu–"

"Três." Caitlyn puxou o gatilho, mas a arma fez apenas um som vazio.

"Por que você quer entrar para a Liga, Caitlyn?" A voz de repente se tornou solene.

"Sou eu quem faz as perguntas aqui! Quem–" Ela não gostava de ser interrogada.

"Por que você quer entrar para a Liga, Caitlyn?" Havia um nível de controle na voz que fez com que um calafrio subisse por sua coluna.

"Você já sabe a resposta pra essa pergunta, ou não teria me trazido aqui." Ela esperou, mas não teve resposta. "Ele é o único caso que eu precisei deixar em aberto. Vou melhorar. Vou pegá-lo, e a Liga vai ser minha ferramenta pra fazer exatamente isso."

"Como se sente, expondo sua mente?" A pergunta veio sussurrada atrás dela, e o alçapão no beco se fechou. Ela se virou, mas só o que viu foram as portas enfeitadas de mármore do Instituto. Atrás dela estava o caminho para se tornar uma campeã.

"Se você quer saber o que eu penso, só pergunte, da próxima vez. Eu poupo você dos detalhes inúteis." Ela sorriu, sabendo que estava sendo observada, antes de jogar seu rifle sobre seu ombro e continuar seu caminho até a Liga.