sexta-feira, 14 de outubro de 2016

História Arquivada - Julgamento: Jarvan IV









Candidato: Jarvan IV
Data: 2 de Março, 21 CLE

OBSERVAÇÃO

O invocador júnior de Demacia que havia sido inicialmente designado para dar as boas-vindas a Jarvan, por infelicidade, teve um acidente. Ele precisou ser substituído no último minuto por um jovem invocador de Bilgewater com tino tanto para negócios quanto para subir de vida. Parece que o novo rapaz marcou um Julgamento matinal para Jarvan, e julgado ele será, mas não pela Liga.

Ele se aproxima do Grande Saguão, exalando arrogância. Ele, como seu pai, marcha como se os demais devessem se sentir privilegiados por vê-lo. Sua armadura é chamativa e pouco prática, decorada com partes de bestas derrotadas, se gabando sem dizer uma palavra. Ele tem a destacada fisionomia de todos os porcos Lightshield, homens em cujas mãos ficam melhor as clavas, não a autoridade. Ele é mimado, arrogante, e como um todo não merece o respeito jogado a seus pés.

Ele marcha até as portas da câmara, uma besta poderosa, orgulhosa, carente de domesticação. Ele atravessa o portal, saindo da luz... e entrando na palma da minha mão.

Bem-vindo, Jarvan, eu esperei muito tempo por isso.

REFLEXÃO

A realeza tem suas vantagens. Os tons medidos de seu pai, rei Jarvan Lighthsield Terceiro, interromperam os pensamentos do príncipe Jarvan. Apesar de seus protestos, o rei havia insistido que Xin Zhao contasse seu Julgamento da Liga em detalhes para que Jarvan soubesse o que esperar. Isso ia contra as regras da Liga, mas, como seu pai havia dito, era “uma infração necessária”. O teste mal parecia válido quando se descobria o truque. Entre na sala, seja confrontado por uma visão perturbadora do passado, e responda algumas perguntas. Jarvan estava amargurado por ter sua oportunidade de vencer o desafio de maneira justa roubada. O que vale um príncipe que trapaceia para conquistar um obstáculo superado por seus subordinados? Sua expressão tornou-se grave; era uma expressão muitas vezes negada a um líder do público, mas uma que condizia com as imediações escuras, silenciosas.

Xin havia descrito a Câmara da Reflexão como “espessa com escuridão abissal,” uma descrição que se mostrava excessivamente dramática. Era escuro, sim, mas no geral comum. A ausência de luz sequer conseguia ofuscar alguma outra pessoa ou entidade presente na sala. Jarvan se contentava em ficar ali parado, permitindo que ele, ela ou aquilo continuasse com a farsa silenciosa.

Do lado oposto da apertada antecâmara, um vulto se encontrava nas sombras. Não podia estar a mais de quatro metros de Jarvan. Ele prestou pouca atenção nele, esperando que sua visão começasse. Porém, ao invés de ser levado a uma miragem fantástica como esperava, Jarvan foi deixado na escuridão comum quando o ser atacou.

Jarvan estava despreparado. A silhueta em sua frente abriu asas amplas cor de ônix e guinou em sua direção. Jarvan tentou se afastar em uma postura defensiva, mas garras afiadas surgiram do chão abaixo dele, se enterrando em suas pernas e as prendendo no lugar. Criaturas negras enxamearam pelo ar em volta dele, bicando sua carne exposta. A dor abalou seus sentidos. A sombra estava sobre ele agora, avançando com propósito inconfundível. Seis olhos ardiam mais vermelhos que sangue, mais quentes que brasas sobre ele, o ódio queimando o ar em torno deles.

Swain.

Jarvan arrancou suas pernas das garras, ignorando a dor enquanto elas cortavam sua pele. Sua lança investiu em uma estocada, sedenta pelo coração de seu alvo. Ela se chocou contra o peito do vulto alado, empalando cada vez mais. Com um grito horripilante, Jarvan levantou Swain no ar, sobre sua cabeça, e o atirou para trás na parede. A silhueta se chocou contra a superfície fria de pedra e deslizou para o chão.

Jarvan se virou, olhos se enchendo de veneno. “Se você queria uma demonstração, escolheu o oponente perfeito!” Ele avançou, com a intenção de remover a cabeça de Swain, ilusão ou não. Ele só conseguiu dar um passo antes de energia arquear pelo ar, queimando-o através de sua armadura. Um cheiro chamuscado encheu a sala conforme o raio corria por ele. Ele foi abraçado pela agonia, e não podia se ouvir gritar.

Tochas se acenderam pela sala, e Swain, agora humano, estava onde havia sido jogado. Seu corvo flutuava no ar a seu lado, o raio de energia surgindo de seu bico. Uma mancha carmesim se espalhava pelo peito de Swain.

“Não preciso de demonstração, príncipe.” Swain cuspiu o título como se fosse um verme num pedaço de filé. “Sua 'infeliz' morte graças a um descuido da Liga vai ser muito satisfatória, e não tenho dúvidas que você irá providenciar isso. Me pergunto o que seu pai irá pensar de seu tratado quando isso acontecer...” Ele fechou as mãos em punhos e correntes luminosas de magia apareceram, fluindo para elas. Ele as abriu e a magia surgiu em uma explosão, amplificando o poder do corvo. Os olhos de Jarvan se arregalaram quando a agonia aumentou. Ele caiu de joelhos.

“Você é tão tediosamente tolo, demaciano. Sem tato, sem finesse. Me enoja chamá-lo de rival. Mal posso esperar para me ver livre de você, na esperança de que um oponente à altura surja e tome seu lugar.” Enquanto falava, a silhueta de Swain começou a mudar. Ele estava inchando, se esticando, se transformando medonhamente na frente de Jarvan. Corvos surgiram de seu corpo, descendo em direção a Jarvan e rasgando seu corpo. Enquanto os pássaros bandeavam, as tochas da sala piscavam, se apagando uma a uma. Quando a última tocha foi extinguida, só o que Jarvan podia ver eram seis pontos brilhantes, sedentos por sangue, na cabeça desfigurada de Swain. Os pontos se misturavam enquanto sua visão se embaçava, e por fim, nada sobrara além da escuridão.

Jarvan estava num lugar familiar, longe do Instituto, na encruzilhada solitária entre a vida e a morte. Ele estava no precipício da paz eterna, os portões do sono. Ele estendeu a mão, como muitas vezes antes, para sentir o calor em sua pele. Um dia... ainda não.

Olhos fechados, um som cresceu de dentro dele, de algum lugar mais profundo que o corpo, que a alma. Ondulou para fora, se desdobrando e expandindo. Explodiu de seu coração, queimou por suas veias, acendeu seus músculos. Quando escapou de seus lábios, era algo vivo, tão formidável e furioso quanto os corvos beliscando sua carne. O som estava repleto das vozes de seus ancestrais. Era o grito de batalha de um guerreiro demaciano, o rugido de um príncipe. Quando o som chegou a seus ouvidos, os olhos de Jarvan se abriram subitamente. Eles não eram mais os olhos de um homem. Eles anunciavam com fogo a chegada de uma besta, o despertar de um rei. Eles se focaram em Swain.

Jarvan se levantou num pulo, partindo as garras, estilhaçando os bicos. Ele mergulhou à frente, abandonando sua lança. Os olhos de Swain mostravam sua surpresa quando Jarvan agarrou seu pescoço com uma mão e o levantou do chão. Jarvan continuou avançando, batendo violentamente o corpo de Swain contra a parede atrás dele. Ele apertou os dedos contra a sensação suave do ar lutando para passar sob eles. Ele sorria maleficamente a cada arquejo engasgado.

“Tato? Finesse? Na guerra, só há o vitorioso e os mortos, noxiano!” Jarvan estava vagamente ciente dos corvos arrancando pedaços de seu corpo, carregando sua energia vital para Swain. Ele sentiu a morte espreitando no limiar de sua visão. Ele verteu toda a força que lhe restava em apertar o pescoço de Swain, determinado a não morrer até ver a vida se esvair pelos olhos salientes do rival. Os dois estavam travados um no outro, sangue empoçando no chão, nenhum deles disposto a morrer antes do outro.

“CHEGA!!!” Uma voz surgiu, ecoando pelos corredores de pedra do Instituto. Jarvan subitamente foi lançado para longe de Swain, propelido pelo ar por uma força desconhecida. Ele parou no momento em que ia se chocar contra a parede oposta, suspenso a um metro do chão. Swain estava pendurado na mesma altura do outro lado da sala, agora humano. Com a exceção de seu favorito, todos os corvos haviam sumido.

A alta conselheira Vessaria Kolminye removeu seu capuz e cravou seu olhar, primeiro em Jarvan, depois em Swain. “O que acha que está fazendo, Swain? Este é um lugar sagrado. Seus jogos traiçoeiros não serão tolerados aqui.” Ela se voltou a Jarvan. “Você será aceito na Liga por motivos óbvios, mas não ache que seus laços políticos vão protegê-lo contra a Liga, caso busque retaliação.” Ela apertou os dentes. “Rezem para que eu não os descubra novamente em meio a tal desrespeito ou vocês ansiarão pelos destinos que planejaram um para o outro neste dia.”

Vessaria moveu seu pulso e Swain rasgou o ar, varrido da sala tão casualmente quanto uma boneca jogada de lado. Vessaria saiu enraivecida atrás dele, balançando a cabeça com desgosto. Jarvan caiu deselegantemente ao chão, grunhindo quando suas feridas clamaram por atenção. Ele se apoiou em sua lança, lutando para se levantar. As portas até a Liga pareciam estar a quilômetros de distância. Ele contemplou a morte. Enquanto reunia forças para mancar em frente, as palavras de seu pai ecoavam em sua cabeça. Um leve sorriso se estendeu em seus lábios.

A realeza tem suas vantagens...

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