quinta-feira, 20 de outubro de 2016

História Arquivada - Julgamento: Xerath













Candidato: Xerath
Data: 4 de Outubro, 21 CLE

OBSERVAÇÃO

Fora a forma vagamente humana no interior dos restos destroçados de seu sarcófago, há poucos sinais de que o ser chamado de Xerath já foi um homem. Sua presença é fria e sem emoção, sem nada que possa ser lido na máscara de ferro que pode-se chamar de seu rosto.

Ele não pausa para observar o corredor em torno dele. Xerath se aproxima das portas massivas da Câmara da Reflexão e, com um movimento de seu braço, elas se abrem perante ele.

REFLEXÃO

As portas mal haviam se fechado atrás de Xerath quando uma tempestade de areia obscureceu sua visão. Ventos violentos e cortantes o rodearam, e ele percebeu, para seu horror, que eles desfaziam sua silhueta. Os pedaços destroçados de seu sarcófago se desfizeram em tufos de areia. Pior, Xerath podia sentir-se ficando mais fraco. Conforme sua prisão desaparecia na tempestade, a energia arcana que constituía seu corpo sumia com ela, substituída por carne e osso.

As areias do tempo haviam se voltado contra ele. Ele era humano novamente.

A seu redor, a tempestade tomou forma na escuridão. Ele reconheceu as paredes de arenito e as estátuas que se elevavam do chão até o teto. As majestosas figuras seguravam cetros contra seus peitos, e seus olhos, folheados a ouro, eternamente observavam aqueles que passavam abaixo deles. Ele estava no Templo do Falcão, onde todos os magos de Shurima praticavam sua arte.

Os colegas de juventude de Xerath treinavam sob seus ancestrais Magi. Eles moldavam fogo e gelo e magias retorcidas em espadas, refinando o arcano e transformando-o em armas. Assim era a missão dos magos: os maiores mestres da magia seriam vitoriosos sobre os inimigos conquistados de Shurima.

Xertah esperou silenciosamente próximo à parede do templo, cativado pela luz dos feitiços. Nada matava sua sede de conhecimento mais do que o arcano puro. Seu fraco brilho o chamava, e em sua profundeza ele sabia que existiam milhares de segredos.

"Por que não se junta a eles, Xerath?"

A voz tirou-lhe o foco. Tabia, uma de suas colegas magas, estava a seu lado. Sua aparição repentina e seu sorriso fizeram com que ele tropeçasse em suas palavras por um instante. "Ah... bem... temos nossas diferenças."

"Você é um mago de Shurima," disse Tabia. Ela se aproximou dele. "Nós temos o mesmo caminho. De que diferenças você fala?"

"O jeito como trançam sua magia," ele respondeu, direcionando o olhar novamente aos outros magos.

"Eles fazem armas com ela, mas não entendem. Quanto mais você força o controle sobre ela, mais você perde sua verdadeira ligação com o arcano."

"Magia é caótica. Você conhece as aulas. Sem a mão de um mago para guiá-lo, podemos apenas torcer para poder controlar o que o arcano destrói e o que não."

"Sim, mas se é poder puro que queremos..." Xerath curvou a palma da mão. Nas dobras de seus dedos finos, uma faísca trouxe uma à vida uma chama azul-violeta. Ele sabia que podia moldá-la como quisesse, mas apenas a deixou queimar.

Por si só, sem o menor incentivo, a chama cresceu. Em pouco tempo, queimava ferozmente em sua mão, seu poder bruto fluindo por dele e aquecendo seu interior.

"Só o que precisa é de um hospedeiro," disse ele.

Ele desviou o olhar da chama e viu Tabia olhando para ele, não sua magia. Ela sorriu novamente, e sua beleza fez a mente dele desviar do arcano. Entre eles, a chama ficou mais forte...

...e então a realidade a seu redor ficou turva.

O templo escureceu e o rosto de Tabia desapareceu de sua vista. Por um momento, ele lembrou-se do truque dos invocadores e do Instituto da Guerra, mas a dor lhe trouxe de volta a outra lembrança.

Poder puro e sem limites o fazia arder em chamas, de dentro para fora. Profundamente, em seu âmago, ele sentiu uma agonia causticante onde o fogo ardia demasiadamente quente, ameaçando queimar até a superfície, consumir e destrui-lo.

O arcano precisava de um hospedeiro... mas sua frágil forma humana não era o suficiente.

O rosto de Xerath se contorceu. "Não vou permitir que este corpo mortal me impeça." Ele estendeu a mão. Fogo arcano saltou das pontas de seus dedos, estalando com poder e formando runas brevemente suspensas no ar.

A magia branca, fervente e ofuscante rapidamente cresceu e se tornou um vento tumultuoso à sua volta. Uma estátua ancestral se partiu, os pedaços quebrando ao chão e estremecendo as fundações do templo. Ele precisou de toda sua força e determinação para suportar o feitiço. Mesmo assim, o feitiço se expandiu e intensificou, ameaçando libertar-se.

Mas uma voz se sobrepôs ao caos. "Xerath! Pare!"

Tabia.

O controle de Xerath sobre o ritual fraquejou quando ele se virou em direção à voz. Ela estava próxima aos pés de um ancestral Magi, seus cabelos escuros contrastando com seu rosto pálido e belo.

"Você não deve fazer isso," ela gritou, seus olhos ardendo destemidamente. "Isso vai consumir você. Já está o matando, e você só ajudaria a terminar o serviço mais rápido!"

"Tabia," Xerath implorou, sua voz rouca e trêmula. "Por favor, você não entende..."

A espiral arcana se retorceu e pulsou como uma tempestade sobre eles. Xerath a sentiu escapar ainda mais de seu controle.

"Você não precisa disso," ela disse, sua voz também implorando. "Pare agora, e você pode se curar. Você pode ter vida de novo. Eu posso ajudar," ela pausou. "Volte pra casa."

A determinação de Xerath fraquejou. Talvez ela estivesse certa. Ele se imaginou em casa, longe dos Magi e do arcano para sempre, e de toda a dor que haviam lhe causado. A forma como lhe tinham corroído por dentro, tudo acabaria. Talvez...

Tabia disse algo, mas Xerath não pôde ouvi-la. A estátua sobre ela estremeceu e começou a entrar em colapso.

"Tabia! NÃO!"

Com o som do grito de Tabia, o restante das estátuas e paredes do Templo começaram a ruir com a força do feitiço de Xerath. Ele tinha perdido o controle. No centro do feitiço, ele cobriu o rosto com as mãos, gritando o nome de Tabia em agonia. Sua breve visão de casa e da fuga do arcano se perdera assim que ele encontrara a força para tentar alcançá-la.

Era tarde demais para parar o feitiço. Ele o consumiria, também, e ele estremeceu, aterrorizado pela ideia. Todos seus esforços por nada... tudo pelo que ele trabalhara, perdido.

A não ser que ele terminasse o ritual.

Ele hesitou. Parte dele queria aceitar a morte, mas uma parte maior ainda lembrava do que ele havia decidido fazer–tornar-se algo maior. Transcender o corpo mortal que limitava os outros magos.

Não lhe restava mais nada além disso. Mesmo com seu corpo dolorido de fraqueza, Xerath se recompôs.

Serei eterno... ou morrerei.

Ele ergueu os braços e a massa de magia se contorcendo sobre ele novamente tomou alguma forma, mas mesmo assim expandia, destruindo o restante das estátuas Magi e as paredes do templo. Xerath puxou o feitiço para dentro de si com toda a força que tinha, bloqueando o que podia ver do templo ruindo em torno dele.

Por um momento, no caos arcano, ele pôde ver uma reflexão de si mesmo: um homem pálido, emaciado, envelhecido muito além de sua idade.

Enquanto o feitiço o engolia, os olhos de Xerath se enchiam de medo. Pouco a pouco, ele viu a si mesmo ser destroçado.

Em um instante, o caos se acalmou. Xerath estava de volta à Câmara da Reflexão, e um invocador encapuzado estava diante dele.

"Todo esse poder," disse o invocador, "E agora você é um prisioneiro."

"Uma inconveniência," respondeu Xerath, sua voz ecoando pela câmara.

"E ainda assim não é o que você esperava quando tomou o controle daquele feitiço. Você tem arrependimentos, Magus?"

"Não."

A expressão do invocador mostrou irritação. "Você sacrificou a si mesmo, seu povo, e a mulher que amava... tudo por poder. Poder que não pode mais alcançar."

"Como eu disse," continuou Xerath, "Uma inconveniência. Serei livre."

"Por que você quer entrar para a Liga, Xerath?"

Face à pergunta, Xerath fez uma pausa. "O fardo de minha prisão existiu porque os magos de Shurima não puderam compreender o que eu buscava. Não permitirei que meus objetivos sejam mal entendidos novamente. Considere meu trabalho com sua Liga, invocador, uma demonstração de boa fé."

O invocador fitou-o em silêncio por um momento antes de assentir brevemente com a cabeça. "Muito bem. Como se sente, expondo sua mente?"

Xerath deu de costas. "Não sou mais o aluno ingênuo que você expôs," ele disse, "Minha vida anterior não significa nada."

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