sábado, 15 de outubro de 2016

História Arquivada - Julgamento: Sona












Candidata: Sona
Data: 21 de Setembro, 20 CLE

OBSERVAÇÃO

Sona desliza sobre ventos harmoniosos, seu elegante robe esvoaçando gentilmente atrás dela enquanto ela adentra o Grande Saguão. Seu cabelo flutua em uma brisa invisível, mechas turquesa dissolvendo em fios dourados nas pontas de seus longos rabos-de-cavalo. Ela poderia facilmente ser uma bela dama da magia em qualquer lugar de Runeterra, não fosse o estranho instrumento flutuando à sua frente, parecendo simultaneamente protegê-la e guiá-la.

O prédio range sutilmente, as fundações se ajustando à forte magia. Ela direciona o ouvido ao som, ficando parada por um instante após o som se esvair. É perceptível que o som ainda ressoa em sua mente, sendo analisado em tonalidade, intenção, e acima de tudo, perigo. Ela sequer se preocupa em olhar a seu redor; a sinfonia interna da construção lhe diz tudo o que precisa saber sobre este lugar.

Com o menor dos movimentos, ela toca com maestria uma única corda de seu instrumento, e as portas duplas à sua frente se abrem. Ela entra sem hesitação.

REFLEXÃO

A escuridão se desenrolava em torno dela, tão profunda quanto o abismo infinito de silêncio que a afligia. Ela não sentia medo desde que o etwahl estivesse em suas mãos. Seus braços se enrolaram carinhosamente no instrumento, seus dedos passando com maestria pelo bronze moldado e cordas rígidas. Apertando-o contra sua bochecha, ela fechou os olhos e esperou. Era em momentos como este que ela podia sentir o instrumento tomar vida em seus braços, respirando lenta e cuidadosamente enquanto protegia sua mestra. Esses momentos eram importantes para ela, quando ela podia ficar sozinha no mundo com seu amado instrumento, envolta em seu casulo protetor.

Repentinamente, o etwahl ficou tenso. Ela acariciou a curva suave do metal, questionando. Antes que pudesse ter uma resposta, uma voz rouca ecoou.

“Sona!”

Os olhos de Sona se abriram subitamente em resposta ao único som que ela amava mais do que a própria música. Ela se descobriu na porta de uma mansão demaciana, fitando a entrada com o mesmo espanto em seu rosto como no dia em que foi trazida à sua nova casa. Lestara Buvelle estava à sua frente, vestida com um belo robe de camurça. Cheia de joias e seu costumeiro forte perfume, Lestara andou em direção a Sona, seu rosto redondo brilhando de felicidade.

“Minha querida, olhe só você! Você é uma mulher feita agora, e fez tantas coisas.”

Lestara abraçou Sona e se afastou para avaliá-la.

“Você realmente me dá muito orgulho. Meu coração flutua quando eu a olho. Entre e sente-se comigo um pouco.”

Lestara se virou para andar pelo longo corredor, seus passos batendo em staccato no chão ladrilhado. O coração de Sona se encheu de felicidade, e ela estendeu a mão para o aço tranquilizador de seu instrumento.

Suas mãos não agarraram nada além de ar.

Sona se virou, procurando pelo etwahl. Teria ela o colocado de lado sem perceber agora há pouco?

Repentinamente, uma nota ecoou, aguda e errada. Sona se virou e viu o etwahl flutuando lentamente pelo corredor. Sona chamou o instrumento para si, mas pela primeira vez, ele não lhe deu atenção. A mesma nota tocou de novo e de novo conforme o instrumento se aproximava de Lestara pelas costas.

Ele queria sangue.

Sona se jogou frenética no corredor, mas estava longe demais para alcançar Lestara a tempo. Sua única chance seria gritar para avisá-la. Ela forçou sua garganta, mas nenhum som saía, como nunca tinha saído sua vida toda.

As cordas do etwahl palhetavam um som terrível que ficaria para sempre gravado em sua memória. Uma vibração tremeu pelo ar, e um surto de fios como foices rasgou o corpo de Lestara.

Sona alcançou Lestara a tempo de pegá-la enquanto seu corpo caía ao chão em uma poça de sangue. Lágrimas escorriam pelo rosto de Sona enquanto ela tentava gritar, mas nenhum som saía.

O corredor se dissolveu em escuridão, deixando Sona jogada sobre o corpo de Lestara, com o etwahl deixado inocentemente a seu lado. Os olhos de Lestara se abriram, e ela perguntou com uma voz fraca, “Por que você quer entrar para a Liga?”

A mente de Sona vacilou, incapaz de compreender o que estava acontecendo. Repentinamente, ela sentiu um toque de magia arcana em sua garganta, uma sensação imensa que a levou às lágrimas. A respiração entrando e saindo de seu corpo lhe fazia cócegas, tentando criar sons a cada expiro. Sona olhou incrédula para Lestara, que lhe assentiu com a cabeça, a incentivando a falar.

Abrindo a boca, ela começou a falar pela primeira vez em sua vida. Sua respiração ficou presa em sua garganta, quase criando seu primeiro som, quando uma voz ressonante dos recessos de sua fraca memória ecoou em sua mente.

Este instrumento será a chave para abrir o mundo. Ele falará por você mais verdadeiramente do que uma voz poderia. Mais nada – nem nós, nem eles, ou qualquer magia no mundo – vai ter você de novo.

Quase que por vontade própria, sua mão se estendeu e bateu no etwahl ao lado dela. Dissonância surgiu, ensurdecedoramente alta, abafando quaisquer sons que tenham saído de seus lábios. Enquanto os tons se esvaíam, também se esvaía a sensação estranha em sua garganta. O encantamento se fora, para nunca mais voltar.

A voz de Lestara ficou mais alta, ecoando no éter. “Por que quer entrar para a Liga, Sona?”

As cordas do etwahl tremeram e começaram a tocar sozinhas, mas Sona as apertou com a palma da mão para silenciar o instrumento. Ele resistiu por um momento tenso, depois ficou quieto. Lentamente, seus dedos começaram a correr pelas cordas. Hesitante no começo, testando a rendição do instrumento, ela tocou uma progressão desafiadora em resposta à pergunta.

“Como se sente, expondo sua mente?”

Seus dedos dançaram pelas cordas, trazendo à tona uma melodia de solidão e isolamento. Era a canção daqueles que viveram suas vidas escondidos à vista de todos, sempre ignorados apesar de tentar desesperadamente ser notados. Começou pensativamente, um lamento triste, e gradualmente se tornou um crescendo estrondoso e raivoso. As últimas notas ecoaram com um tom de aceitação silenciosa, mas acima de tudo, catarse.

Um sorriso se formou no rosto de Lestara. “Bem-vinda à Liga, Mestra das Cordas.”

Lesara desapareceu, e a escuridão se esvaiu para revelar Sona flutuando em frente a suntuosas portas duplas. Ela sabia que elas levavam à Liga das Lendas.

Seu etwahl se moldou às suas mãos, tranquilizando-a, aguardando o comando de sua mestra. Sona se moveu através das portas sem pensar duas vezes.

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